O sentimento dos derrotados.

-Olha, você deve estar sabendo que nós roubamos uma grana sua aí, numa trapaça que ficou conhecida como mensalão, né?
-Sim, eu soube. Saiu em todos os jornais. Do mundo. Prenderam uma galerinha sua, né?
-Prenderam sim... Mas nós os consideramos heróis! Mártires! Terão sempre o nosso apoio.
- Porque exatamente são heróis?
-Ah, não sei te explicar direito; mas esteja seguro de que são.
-Mas eles roubaram!
-Sim, estão presos por isso. Mas nós não acreditamos que sejam culpados. Apesar de saber que são.
-Não entendi muito bem.
-Não faz mal, não é esse o ponto. O negócio é que você deve estar sabendo desse novo escândalo aí também né, sobre a empresa de petróleo que devia dar lucro para o país mas a gente foi lá e comeu dez bilhões.
-Sim, vocês fizeram de novo.
-É, mas eu não sabia de nada assim como não sabia da outra vez. Só fiquei sabendo depois.
-Mas foi você quem indicou todo mundo que está metido nisso, não? Você é a chefe.
-É mais ou menos isso... e sim, sou a chefe.
-Como não sabe?
-Ah, não sei te explicar direito, mas esteja seguro de que eu não sabia.
-Tá... sei... Mas o que você quer afinal?
-Já chego lá. Ano passado você e mais alguns milhões se revoltaram contra nós, especialmente contra mim não é? Fizeram protestos, grandes movimentos, foram notícias pelo mundo todo. Teve gente que chamou aquilo de revolta do vinagre rsrs. Parece que vocês realmente estavam furiosos comigo.
-É que vocês gastaram nosso dinheiro com coisas que não nos são necessárias, enquanto passamos necessidade de várias coisas que são básicas a qualquer um. Realmente, estávamos muito nervosos com isso.
-Pois é, mas tudo isso é passado. O que eu quero com você é outra coisa.
-E pode me dizer de uma vez o que é, afinal?
-Quero pedir seu voto! Para que possamos ficar por mais quatro anos no poder. As mesmas cabeças fazendo as mesmas coisas (Menos, é claro, os que estão presos. Esses não estarão mais no poder. Pelo menos diretamente).
 -Aaaaahh! Porque não disse logo? Voto sim, claro! Na minha casa todos estão com vocês,
-Mas e os protestos do ano passado?
-Ficaram no ano passado.
-E o mensalão?
-Ah, eu te perdoo.
-E o petrolão?
-Que isso, somos amigos. Eu te perdoo por isso também.
-Mas não é meio injusto eu ter te feito tão mal e você continuar me apoiando e me aplaudindo?
-Não, quê isso. Você promete que vai fazer melhor dessa vez?
-Prometo!
-E como o fara?
-Ah, eu não sei te explicar direito; mas esteja certo de que faremos melhor dessa vez.
-Então eu acredito. Afinal, como posso duvidar de alguém que só me traiu uma dúzia de vezes ou um pouco mais?